E AGORA?

La traduction en portugais de Et maintenant ?. Merci à João Calapez Marques.

Este texto é um « artigo presslib’» (*)

The English version of this post can be found here.

E agora? Que vamos fazer? Agora que a Espanha e a sua dívida perderam acesso ao mercado de capitais?

Sim, a queda da notação de Espanha em três níveis, de A3 para Baa3, estabelecida pela Moody’s, ontem à tarde, não ajudou em nada. Mas enfim, não ficámos a saber mais do já sabíamos desde o último fim-de-semana: com a taxa da dívida soberana a 10 anos, ao nível dos 6,75% (*), no que ao financiamento da sua dívida no mercado de capitais dizia respeito já estava tudo cozinhado.

O que é que se passou? Os 100 mil milhões de euros a mais obtidos pela Espanha através dos fundos europeus, dos quais a própria nação é, agora, devedora, só porque as normas europeias proíbem o financiamento direto dos bancos pelas suas instâncias.

Já repararam que as normas europeias estão recheadas de cláusulas de suicídio programado, cujas implicações só descobrimos, tal como hoje, quando já estamos em apuros?

Alguns, convencidos do poder ilimitado da vontade humana, explicarão que é voluntário: há muito planeado para, um dia, ser posto em prática, o Grande Plano Secreto. É bem mais banal do que isso, são invenções humanas que a seleção natural ainda não teve tempo de resolver.

Mas os Americanos bem que o conseguiram, de muitos pequenos retalhos fizeram uma grande nação! Sim, mas precisamente: nesse caso, o método por tentativa e erro foi usado em grande escala: os Estados Unidos de hoje tiveram que passar por uma Guerra Civil atroz para clarificar um pouco as coisas. E algumas cicatrizes estão ainda bem frescas.

Para já, conservar a Grécia na família é bastante difícil. Mais Portugal, mais a Irlanda, mais – hoje, ao fim da manhã, Chipre. Mas a Espanha, tal como foi dito, desde o primeiro alerta no início de 2010, é demasiado para o que restará da zona euro engolir: não é possível. Sem contar com a Itália que completamente lívida aguarda também ela a sua vez na sala de espera da enfermaria.

Então? E agora?

Já o tinha explicado a 5 de Abril de 2010 – já há dois anos! – numa crónica do Monde-Économie [1] intitulada « O fio vermelho » : «Os governos de unidade nacional estão para breve, quando for evidente aos olhos de todos que nenhum partido conhece sozinho a solução dos problemas insolúveis que se colocam, seguidos de Comités de Salvação Pública, quando for claro que mesmo todos juntos não percebem nada do que se passa e – se Deus tiver piedade – seguidos enfim de um novo Conselho Nacional de Resistência, no momento em que for preciso, para além das divergências entendidas hoje como irredutivelmente inconciliáveis, lançar uma última tentativa para salvar o que puder ainda ser salvo».

O Sr. Hollande ainda não atingiu esse estádio, convencido que está que o crescimento é o que convém à França, e a austeridade em doses cavalares é mais adequada ao temperamento grego. Um PASOK e uma Nova Democracia vencedores das eleições na Grécia, é o que pretende para os Gregos. E, ontem, não hesitou em comunicar-lhes tal desejo. Uma réplica, em pequeno, do casal França-Alemanha que nos é apresentado, hoje, bem ao estilo do cartoonista Dubout. A fórmula ganhadora parece ser a da união de um partido socialista de direita com um partido liberal, convencidos os dois de que meter o Estado-providência em naftalina é muito mais urgente do que tomar mão nas finanças.

Notem que os norte-americanos estão no mesmo estado de espírito: ontem, Jamie Dimon, patrão da J.P. Morgan Chase, esteve na berlinda diante do Comité Bancário do Senado Norte-Americano. Pediam –lhe para explicar como é que o seu banco perdeu por distração entre 3 e 10 mil milhões de dólares. Os senadores do Partido Republicano dedicaram todo o tempo de intervenção que lhes estava destinado a afirmar – e a querer que o Sr. Dimon confirmasse com entusiasmo – que a grande preocupação neste momento, é a regulação demasiado apertada das finanças. Em certas épocas, é assim, digo-vos: o suicídio programado encontra-se em todo o lado. E poupo-vos os exemplos mais cómicos.

Enfim, confiamos que se, neste momento, se trabalhar arduamente para encontrar soluções em Bruxelas, forjaremos alguns planos astuciosos que poderão ser postos em prática em 2014 ou em 2018. Porque é que estas fórmulas milagrosas são sempre adiadas – é caso para o dizer – até às calendas gregas? Para dar tempo ao tempo. Todavia hoje, 14 de Junho de 2012, o que mais nos falta: é, precisamente, o tempo.

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(*) 6,974% às 10h51.

(*) Um «artigo presslib’» é de livre reprodução no todo ou em parte na condição de que este parágrafo seja inscrito após a mesma. Paul Jorion é um « jornalista presslib’ » que vive exclusivamente de direitos de autor e das vossas contribuições. Poderá continuar a escrever como faz hoje enquanto o ajudarmos a faze-lo. O vosso apoio pode manifestar-se aqui



[1] Suplemento economia do jornal “Le Monde”, em www.lemonde.fr

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